Big Brother

Psicóloga Teresa Paula Marques sobre Daniela Ventura e David Maurício: "Traição e amor não são compatíveis"

Nesta crónica, a psicóloga Teresa Paula Marques deixa uma reflexão sobre a polémica recente que envolve Daniela Ventura e David Maurício.

Psicóloga Doutorada em Psicologia OPP - 916
  • 7 set, 11:58

O sucesso dos reality shows prende-se sobretudo com o facto de as pessoas se identificarem com os participantes, já que estes são pessoas comuns, com problemas e comportamentos também vulgares na sociedade.  Assim sendo, tendo em conta as enormes audiências que são atingidas, importa manter um olhar critico sobre este tipo de programas e incentivar o debate sobre algumas situações que lá ocorrem. 

No momento atual, debate-se a relação entre Daniela Ventura e David Maurício. É inegável que a vítima de traição se sente humilhada e desvalorizada, mesmo quando apenas os mais próximos têm conhecimento do sucedido. É fácil imaginarmos como se sentirá quando essa traição é exposta na televisão e, para piorar o que já era suficientemente mau, pode observar a descontração e o indisfarçável orgulho "de macho" com que foi exposta.  

É importante não cair na tentação de branquear esta atitude, culpando a imaturidade ou o inebriamento fruto da fama instantânea que um programa destes gera. Falemos antes de uma cultura machista que ainda está muito presente nos jovens adultos. Aquela cultura que associamos às conversas entre homens que, no meio de uma cerveja e outra, se gabam das conquistas da noite anterior. Afinal de contas, para quem age deste modo,  "ser homem" significa ser gabarola, não respeitar as mulheres, não demonstrar empatia. É tão claro como isto e não merece a pena florear o assunto.  

Pelo que li, o participante em questão afirma amar a pessoa que traiu. Estranho amor que não hesita em magoar, em expor a intimidade de ambos desta maneira. Esclareçamos que nada disto tem a ver com imaturidade e muito menos com amor. O que está aqui em causa são valores morais, algo que é absolutamente necessário ser interiorizado ao longo da vida, de forma a sabermos posicionarmo-nos na sociedade. Só assim há lugar para o respeito, a justiça, a solidariedade, a gratidão … só para referir alguns exemplos.

De entre os valores, a empatia sobressai como um dos mais importantes nas relações interpessoais.  Pode até haver alguma empatia cognitiva, isto é, a pessoa conseguir perceber que agiu mal, porque a traição não é um comportamento louvável. No entanto, o que nos permite ligarmo-nos emocionalmente às pessoas é a empatia afetiva, já que através dela conseguimos colocar-nos no lugar dos outros e evitar magoá-los. Há que ter em conta que uma traição traduz-se num ataque direto à autoestima e autoconfiança e poderá deixar sequelas graves para toda a vida. Muitas pessoas passam a não confiar em ninguém, outras não conseguem voltar a envolver-se intimamente em mais nenhuma relação.

As consequências são tão ou mais graves, quanto maior for a fragilidade emocional que já existia. Posto isto, face a este tipo de situação, ambos os elementos do casal necessitam de ajuda, ainda que por diferentes motivos, caso contrário correm o risco de que este passe a constituir o respetivo padrão de funcionamento relacional, o que não é saudável nem traz felicidade a ninguém.

Prof. Dra. Teresa Paula Marques
Psicóloga Doutorada em Psicologia OPP - 916

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