Crónicas

Bruno Andrade em carta aberta a João Neves: "Não há palavras que confortem o coração despedaçado"

Depois de ter sido tornada pública a notícia da morte da mãe de João Neves, o comentador Bruno Andrade escreveu uma carta aberta endereçada ao jovem prodígio do Benfica.

Jornalista e comentador desportivo.
  • 19 fev, 18:42
Bruno Andrade
Bruno Andrade

Não há palavras que confortem o coração despedaçado de um filho que acaba de perder a mãe, especialmente então de um filho que ainda tem toda uma vida - e uma carreira absurdamente promissora - pela frente.

Digo isso com conhecimento de causa. Aos 17 anos, vi minha querida Norma, com 50 anos, nos deixar, praticamente da noite para o dia. Foi dormir sorridente e acabou por não despertar de um maldito sono profundo. Sem sofrimento, espero eu.

Aos 19 anos, um jovem benfiquista vê agora a sua grande heroína partir. Também aos 50 anos. Também de repente. Um injusto e cruel adeus num momento chave. É atualmente a grande sensação portuguesa do Benfica. Da seleção. Do futebol nacional.

Diante do contexto tenebroso e repleto de ódio no qual estamos profundamente mergulhados, onde há quem dê mais importância para um golo anulado do que para um ato de racismo, a empatia precisa prevalecer. Nem que seja por um único dia, por favor.

Hoje, aos 35 anos e ainda com uma saudade que não cabe dentro de mim, acompanhei outras perdas que arrasaram personagens únicos do meu meio. Adriano Imperador, por exemplo, nunca mais foi o mesmo depois de ficar órfão de pai.

O mundo, seja do futebol ou não, seja vermelho, verde ou azul, fica sempre mais vazio quando um filho perde a mãe. Se palavras soltas o vento leva, gestos solidários e de compaixão impregnam. Sim, somente gestos.

Espero, de coração, que João Neves seja inundado de carinho, abraços e ombros amigos. Que uma dor isolada dê espaço para, quem sabe, um momento de reflexão geral. Pois é, eu sei, acho que já estou a pedir demais...

Bruno Andrade
Jornalista e comentador desportivo.

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