Big Brother

Virginia López lança livro sobre luta contra cancro: "Houve dias muito maus mas, com amor, tudo se supera"

Em entrevista à SELFIE, a escritora Virginia López, que o público português passou a conhecer mais desde que participou no reality show da TVI "Big Brother Famosos", fala sobre o livro que acaba de lançar.

O que podemos encontrar no seu novo livro, De peito aberto à vida?
Trata-se de um relato autobiográfico escrito como se fosse um romance, que conta o meu processo, desde o dia em que descobri o caroço até o fim dos tratamentos. Mesmo assim, não é um livro só para mulheres com cancro, é um livro que fala de esperança, de autodescoberta, de superação e de aprender a viver o tempo presente ao máximo. 

Este é o livro mais íntimo que já escreveu? Porquê lançá-lo agora?
Sim, é um livro profundamente honesto e sincero, sem filtros. Escrevê-lo não foi premeditado, foi surgindo, porque, ao longo do processo, fui escrevendo algumas partes, a modo de diário, e também partilhei nas redes sociais. Muitas mulheres começaram a escrever-me para partilhar comigo as suas histórias e, por isso, entendi que talvez pudesse fazer sentido contar a minha.

Ao escrever sobre si, mais concretamente sobre o período em que combateu um cancro, sente-se mais "despida" como autora, no sentido em que é a personagem principal? E é mais doloroso?
Escrever na primeira pessoa é sempre um ato de coragem, sobretudo quando se fala de emoções, e, neste livro, há um pouco de tudo. Há esperança, mas também medo, raiva, culpa, ansiedade, dor... Mas sempre pensei que os desabafos partilhados funcionam melhor, pelo que este livro pretende ser isso, a transformação em esperança, um livro que possa inspirar outras mulheres a encontrar a sua força interior. Não é doloroso se conseguirmos transformar essa dor em algo bom para as outras pessoas. 

Como foi o processo de escrita?
Fui escrevendo no meu caderno, mas não consegui olhar para tudo com clareza até ao fim dos tratamentos de quimioterapia. Foi então quando juntei o que tinha escrito e refleti de que forma poderia contar a minha história. Decidi fazê-lo no tempo presente para que, quem leia o livro, sinta que está a acompanhar a viagem. Mesmo havendo episódios mais duros, não pretende ser um livro doloroso, nem está escrito desde a perspetiva da vítima. Em todos os capítulos, há uma nota de esperança e muita aprendizagem. 

O que sentiu naquela manhã de inverno em que descobriu um caroço na mama esquerda? Temeu logo o cenário que viria a concretizar-se?
Senti que havia qualquer coisa que não devia estar e tinha de saber o que era o mais depressa possível. Não podia olhar para o lado ou procrastinar, porque podia ser grave e com estas coisas não se brinca. Por isso, agendei logo a mamografia. Momentos antes de a fazer, na sala de espera - pequeno spoiler -, a minha intuição avisou-me de que era mau, mas que iria sobreviver. Não foi pessimismo. Acredito que todos temos uma voz interior que nos prepara e avisa, quando aprendemos a ouvi-la. 

O momento do diagnóstico, acredito, é um dos mais marcantes de toda esta jornada. Como o assimilou?
Nesse momento, foi a constatação do que a minha intuição já me tinha dito, pelo que não foi tão mau como foi para o meu marido, que estava comigo. É duro ouvir que alguém que amas tem cancro, porque passas a temer pela vida dessa pessoa. Eu sei porque vivi isso com a minha mãe. Para mim, foi pior no dia em que o médico disse que teria de fazer uma mastectomia e perder a mama. Nesse momento, senti um misto de emoções - por um lado, a urgência de salvar a minha vida; por outro, o medo de deixar de gostar de mim quando me olhar no espelho sem um peito. 

Passou pela fase de se questionar "Porquê a mim?"?
É inevitável não pensar, em alguns momentos, se poderíamos ter feito algo diferente para evitar...  Mas eu preferi não me focar na culpa e nos remorsos, porque o passado não se pode mudar. Não fumo, não bebo, tenho uma alimentação mais ou menos saudável mas, mesmo assim, tive cancro. Às vezes, é só uma questão de estatística, pelo que acredito que não vale a pena afundar-se no porquê. Prefiro focar-me em como é que vou resolver ou em que é que posso aprender e fazer diferente. 

As memórias da sua mãe e da sua avó, que combateram a mesma doença, estiveram sempre presentes?
Sim, mas quase sempre de forma positiva. Ambas foram mulheres resilientes, que tiveram de enfrentar muitas dificuldades, mas nunca baixaram os braços. Elas são a minha inspiração para não desistir, seguir em frente e aproveitar a vida ao máximo, que, no caso delas, foi mais curta do que teriam gostado. Mas também olho para elas a pensar naquilo que não foram capazes de mudar, por exemplo, prestar mais atenção ao autocuidado. As mulheres têm tendência a cuidar muito dos outros e, às vezes, esquecem-se delas próprias. Nesse sentido, não quero repetir a história e comprometi-me comigo mesma a colocar-me no topo das prioridades e cuidar de mim, para poder cuidar dos outros. 

Admite que, nesta fase de superação, viveu momentos de solidão. Era uma solidão por opção? Porque sentiu a necessidade de tê-los?
Penso que a solidão é uma emoção intrínseca ao ser humano, ou seja, às vezes, mesmo estando rodeados, é inevitável não nos sentirmos sozinhos. Por isso, decidi escrever o livro, para dizer às mulheres que não estão sozinhas, que têm direito a sentir, que todas as emoções são válidas, que podem gritar, chorar, rir, espernear e que ninguém pode julgar as emoções. Podemos sempre voltar ao nosso casulo para viver uma nova metamorfose. Este cancro também me trouxe isso: mais conhecimento de mim mesma e mais amor-próprio. Espero que o livro sirva para levar isso às leitoras. 

Ainda assim, apoio nunca lhe faltou. Era fácil os que a rodeavam entender como a Virginia ia estando ao longo deste processo?
Sou uma mulher tremendamente afortunada, porque tenho um marido e dois filhos maravilhosos, além de duas famílias - portuguesa e espanhola - que me apoiam, muitas amigas e também seguidoras que não me deixaram sozinha. Recebi muito amor e sinto-me muito grata por isso. Procurei expressar o que sentia. Fui muito transparente. Houve dias muito maus, mas, com amor, tudo se supera. 

Houve, certamente, dias mais sombrios. Em que se agarrava nesses momentos?
Quando a dor é forte ou fisicamente não nos encontramos bem, é normal surgirem emoções menos boas, como o medo, a ansiedade, a culpa... Aprendi a aceitar que todos os processos são transitórios e que nada dura para sempre, pelo que pensava que esses maus momentos também haveriam de passar. Assim que me sentia um pouco melhor, agarrava-me a isso como quem segura uma corda para sair das areias movediças. O amor e compreensão dos meus ajudou muito, assim como aprender a não ser tão dura comigo. 

Como geriu a queda do cabelo? É sempre um momento muito impactante, em particular para as mulheres que travam esta batalha…
Foi uma surpresa, porque nunca pensei que gostaria de ver-me e, afinal, até gostei e foi confortável. Senti-me mais leve e livre. Mas compreendo que haja mulheres a quem lhes custe não ter cabelo ou prefiram usar uma prótese. Cada qual vive este processo de uma forma diferente e não há certo nem errado. No meu caso, foi mais uma oportunidade para olhar-me ao espelho e gostar de mim tal como sou, despida de acessórios, apenas com a minha essência. 

Acreditou sempre que ia vencer este cancro?
Anteriormente, escrevi um livro chamado Supervendedora, Supervencedora, pelo que vencer desafios é algo que faz parte de mim. No caso do cancro, é algo diferente, porque, mais do que vencer, há que aprender a conviver com a incerteza de não saber se um dia poderá voltar... Mas o que importa verdadeiramente não é quanto tempo vamos viver, mas como é que vamos viver o tempo que ainda tivermos. Não gosto quando dizem "venceu a batalha" ou "perdeu a batalha", porque, no caso do cancro, não acredito que haja vencedores ou perdedores. A minha mãe morreu com cancro, mas, para mim, continua a ser uma vencedora pela forma como viveu até ao fim. 

Como foi o dia em que soube que tinha sobrevivido a um cancro?
A palavra sobreviver provoca-me alguns arrepios porque, na verdade, todos somos sobreviventes cada dia que acordamos e estamos vivos. Ter tido cancro ensina-me a conviver melhor com a mortalidade, de forma mais saudável, porque normalmente não gostamos de falar nem pensar na morte. Eu não penso todos os dias, mas também não me esqueço que existe e é para todos; não sabemos quando vem, pelo que o lema "carpe diem" ganhou muita mais força e procuro viver intensamente. Mas isso não significa "esbanjar" a vida, significa fazer o que realmente me faz feliz, com as pessoas que amo, cumprir objetivos e não adiar os sonhos para amanhã, porque a única coisa que temos é o presente. 

Redescobriu-se após a luta contra o cancro? Que mulher é hoje?
Sim, descobri que somos sempre mais fortes do que aquilo que pensamos e que o amor é o que verdadeiramente nos salva. Aprendi a amar-me melhor, a respeitar-me mais, a não temer o futuro e a viver o presente com sentido de urgência. Estou longe de ser perfeita, mas já não me culpo tanto pelos erros. Prefiro aprender com eles. Poderia ter aprendido todas estas coisas sem ter de passar por um cancro? Talvez sim, mas, no meu caso, foi necessário. O livro De peito aberto à vida, além de ser a minha história, fala de olhar para nós e redescobrir-nos, amar-nos e sermos felizes cada dia. 

Acredita que o seu relato neste livro pode servir de inspiração a outras mulheres?
Espero que sim, porque acredito que uma mulher inspira outra e, juntas, somos melhores.

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