Entrevistas

Biba Pitta emociona-se e assume: "Isto é um grito de amor pela Madalena"

Em entrevista à SELFIE, Biba Pitta fala sobre o novo livro que acaba de lançar.

As Tuas Asas não é o primeiro livro que escreve.
Não. Na verdade, nenhum foi escrito por mim, porque não sou escritora e jamais, em tempo algum, teria escritores-fantasma. O primeiro livro chama-se O Cromossoma do Amor e foi escrito pela Inês Baptista. Depois, ela escreveu um segundo livro, chamado Não Há Diferença Nenhuma. Agora, vem um conto. Mais do que um livro, é uma mensagem muito forte e uma homenagem a todas as pessoas diferentes. É uma mensagem importante, também, na perspetiva da aceitação e da inclusão das diferenças.

Que mensagem é essa?
Desde que a minha filha nasceu, sempre acreditei que, com todo o amor, com toda a ajuda e com toda a força, ela iria voar. E eu acho que somos todos como as borboletas. Cada um voa à sua maneira. Uns mais alto, outros mais baixo. Mas todos têm de voar. E, para isso, é preciso acreditarmos nas pessoas, valorizarmos as pessoas como elas são e amarmos as pessoas como elas são e não como nós queríamos que elas fossem. Não é um conto que começa com "Era uma vez..." e acaba com "E foram felizes para sempre". Pelo contrário. É ilustrado. Estas asas são simbólicas, porque todos nós temos asas e podemos dar asas ao outro.

Ou seja, as tuas asas são também as nossas.
Exatamente.

E porquê lançar agora este livro? Desafiaram-na ou partiu de si?
Já tinha esta ideia há muito tempo e queria terminar este ciclo com um conto, mais pequenino. E com muitas ilustrações. Um dia, deu-se, em minha casa, um encontro feliz com uma miúda, a Mafalda Mota, que é ilustradora. Em conversa com ela, disse-lhe que adoraria fazer uma história, uma mensagem ilustrada. Gostei tanto dela que imediatamente fizemos match.

Em que sentido diz que, com este livro, fecha um ciclo?
Em termos de livros, se bem que pode haver uma continuação... Mas isso fica para outras núpcias... Detesto falar de projetos que ainda não estão realizados. Há ideias que temos e que, depois, não se concretizam.

Ou seja, não encara este livro como o fecho de um ciclo na sua vida?
Não. Não fecho portas. Nunca! Não tento é abrir as portas à força.

Quanto tempo foi todo o processo até ao lançamento do livro?
Não durou um ano. Já foi este ano.

É diferente pensar-se numa história destinada a um público infantil do que a um público adulto?
Este conto é ilustrado. Agora, também acho que os adultos que lidam com a diferença podem rever-se nele.

Falar da diferença e das asas de alguém sem associar à figura da Madalena era impossível para si?
Talvez não. Claro que, depois de ser mãe, é tudo mais sensitivo. Mas eu tive alguns exemplos, nem que fosse de ver, que me fizeram acreditar sempre que, quando nós acreditamos, elevamos e amamos os outros como eles são, as pessoas conseguem coisas inacreditáveis. Acho que, muitas vezes, não se faz jus às pessoas diferentes. A maior parte das pessoas não acredita. E as pessoas diferentes são maravilhosas, são seres humanos que têm tanto para dar e revelar...

Mas também somos todos diferentes.
É verdade que somos. Tenho cinco filhos, todos eles diferentes. Mas também tem de se dizer uma coisa: os filhos diferentes, esses, são mesmo diferentes. Os outros conseguem voar à sua maneira. Não precisam de umas asas em cima.

Há pouco, em off, falava-me da cor que há neste livro. A Madalena trouxe mais cor à sua vida? Ou trouxe outras cores à sua vida?
[Tenta falar com a voz embargada e as lágrimas vêm-lhe aos olhos.] A Madalena trouxe-me tudo o que um filho traz. Até me emociono sempre, porque não consigo falar sem ser com o coração. A Madalena foi feita com muito amor, foi uma filha muito desejada... O cromossoma a mais foi um pormenor [risos]. Até costumo dizer que ela foi feita com tanto amor que o cromossoma dela triplicou. Ela trouxe-me o desafio do dia-a-dia, tempo de espera e uma coisa muito engraçada: não há nada de adquirido na Madalena. Ou seja, ela vai-nos mostrando ao tempo dela. Geralmente, entre nós, temos prazos e andamos sempre a correr... A Madalena não é nada disso. Compreendo tão bem a minha filha! Vocês não imaginam como é o mundo dela...

Como é que ela reagiu a este livro?
Adorou. Fui-lhe sempre mostrando os desenhos. É muito engraçado, porque ela anda sempre com o livro debaixo do braço. Agora, se me perguntar o que é que ela sentiu e se ela percebe esta homenagem totalmente, não consigo dizer-lhe. Que adorou, adorou. Que adora o livro, adora. Que os carimbou - porque ela não escreve -, carimbou.

Este livro é um grito de amor pela Madalena?
Olhe, isso é lindo! Vou roubar, vou roubar. Este livro é um grito de amor pela Madalena.

Esta é a grande missão da sua vida?
Não. Talvez seja uma delas. Ser uma porta-voz da diferença. Tive a oportunidade - e a imprensa, nisso, foi fantástica - de partilhar e dar voz à diferença. Lembro-me de que, quando a Madalena nasceu, pouco ou nada se falava sobre a diferença.

Qual foi a maior lição que a Madalena já lhe deu?
Não sei se ela me deu uma lição... Sei que a amo incondicionalmente, da forma como ela é. Eu não queria que ela fosse mais ninguém. Melhor, pior...

Foi assim desde sempre?
Desde o início! Nunca tive pena da minha filha, nem nunca perguntei: "Porque é que calhou a mim?". Eu sou uma mulher igual às outras. Sempre acreditei muito na minha filha, sempre acreditei muito nas pessoas diferentes... Amo-a como ela é. Eu nem sei se ela é diferente... Se calhar, diferentes somos nós todos, não é ela.

E ensinar a Madalena a lidar com esses obstáculos...
[Interrompe.] Acho que ela, às vezes, nem percebe. E ainda bem que ela não percebe.

Ou seja, também é preciso tratar os obstáculos com naturalidade.
Com certeza. Se ela não consegue, não consegue. Não há problema. Não devemos dizer que ela consegue sempre tudo e que faz sempre tudo. Não. Isso não é verdade. Por isso é que digo que os filhos diferentes são mesmo diferentes.

Aceitar a diferença é o mais importante de todos os passos?
Sem dúvida! Foi o passo mais importante que tive de dar!

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