Recentemente, participou no evento solidário PRIO Softboard Heroes. Enquanto figura conhecida, sente a responsabilidade de apoiar e dar a cara por iniciativas solidárias como esta?
É inevitável sentir o peso da responsabilidade de ser uma cara conhecida mas, mais que isso, é um gosto ser capaz de dar o exemplo. Ser uma figura pública oferece uma plataforma que pode ser utilizada para chamar a atenção para causas importantes. No caso do PRIO Softboard Heroes, é uma oportunidade de usar essa visibilidade para promover a solidariedade, a cultura e a sustentabilidade. Participar nestes eventos é uma forma de devolver algo à comunidade e incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo.
Este evento focou-se na cultura e na sustentabilidade e visou promover a reflexão do público sobre questões ambientais. São temas para os quais está alerta no seu dia a dia?
Sim, a cultura e a sustentabilidade são temas que considero extremamente importantes e que procuro integrar no meu dia a dia. Tenho consciência do impacto que as nossas ações têm no meio ambiente e na sociedade. Este evento é uma excelente oportunidade para promover a reflexão e a ação nessas áreas, e acredito que é fundamental estarmos todos alerta e envolvidos na busca por um futuro mais sustentável.
É importante para si que o humor possa também servir causas sociais e solidárias?
Sem qualquer dúvida. O humor é uma ferramenta poderosa que pode servir para mais do que apenas fazer as pessoas rirem. Pode ser usado para aumentar a consciencialização sobre causas sociais e solidárias, proporcionar alívio em momentos difíceis e incentivar a mudança. Usar o humor para apoiar estas causas é uma maneira de tornar assuntos sérios mais acessíveis e de incentivar o público de forma mais leve, mas não menos eficaz.
Hoje em dia, o que é que o move verdadeiramente? Continua a acreditar que é possível trazer leveza à vida das pessoas através do humor?
O que me move verdadeiramente é a possibilidade de impactar positivamente a vida das pessoas através do humor. Acredito firmemente que é possível trazer leveza à vida das pessoas, mesmo em momentos de adversidade. O humor tem a capacidade de transformar situações difíceis em algo mais suportável, de proporcionar momentos de alegria e reflexão, e de criar conexões humanas genuínas.
A definição de humorista ainda é suficiente para descrever tudo aquilo que o António Raminhos é? Ou nunca foi suficiente?
A definição de humorista é uma parte importante do que sou, mas não é suficiente para descrever tudo. Além de humorista, sou pai, marido, escritor e alguém que se preocupa profundamente com questões sociais. O humor é o meu meio principal de expressão, mas engloba muito mais do que apenas fazer piadas. Trata-se de partilhar experiências, medos e reflexões, e de tentar fazer a diferença na vida das pessoas.
A par do riso e das gargalhadas, procura provocar emoções que conduzam o público à reflexão. Tem sempre isso em mente, seja nos espetáculos ao vivo ou nos podcasts? Como encontra esse equilíbrio e por que acha que é tão importante?
Encontro esse equilíbrio através da honestidade e da partilha de experiências pessoais. O humor tem a capacidade de abrir portas para discussões mais profundas, e acho importante usar essa capacidade para provocar reflexão e, eventualmente, mudança. Esse equilíbrio é importante porque ajuda a criar uma conexão mais profunda com o público e torna o humor uma ferramenta ainda mais poderosa e significativa.
Pode partilhar connosco uma experiência em que o humor o ajudou a mudar a vida de alguém? E a si, em que medida o ajudou e continua a ajudar?
Uma experiência significativa que posso partilhar é a forma como o humor me ajudou a lidar com a minha própria ansiedade e perturbação obsessiva-compulsiva. O humor permitiu-me criar uma distância saudável dos meus medos e das minhas preocupações, transformando-os em algo que pode fazer os outros rir. Durante uma crise de ansiedade, é complicado achar graça, mas não é um "poço sem fundo" nem uma "casa sem teto", e, com o tempo, o humor ajuda a relativizar a situação. Ao partilhar essas experiências nos meus espetáculos e nas minhas atuações, espero que as pessoas se identifiquem e encontrem algum alívio, tal como eu encontro. O humor tem o poder de desmistificar os receios e proporcionar uma perspetiva mais leve sobre as adversidades, tanto para mim como para o público.
Um humorista tem maior capacidade para rir de si próprio e dos problemas que o envolvem?
Acredito que sim. O humorista precisa de desenvolver uma capacidade de autorreflexão e de não se levar demasiado a sério. Rir de si próprio e dos problemas que o envolvem é uma forma de desmistificar os receios e lidar melhor com as adversidades. Essa capacidade de rir de nós mesmos torna-nos mais humanos e acessíveis, além de proporcionar uma maneira saudável de enfrentar os desafios. O humor não minimiza a importância dos assuntos, mas traz leveza e ajuda a lidar com eles de forma mais saudável. Desconstrói a dor e relativiza os problemas, porque ajuda a não nos levarmos demasiado a sério e oferece outra perspetiva.
Ainda se recorda do momento em que percebeu que queria seguir uma carreira no humor? Houve algum acontecimento específico que o inspirou?
Sim, lembro-me bem do momento em que decidi seguir uma carreira no humor. Foi quando o jornal para o qual trabalhava faliu e me encontrei desempregado. Com o tempo livre, comecei a ver mais comédia, a ler sobre o assunto e criei um blogue. Foi um processo gradual de descoberta e experimentação, mas foi essa situação de mudança inesperada que me inspirou a arriscar no stand-up e a explorar o mundo do humor.
Quais foram os maiores desafios que enfrentou na carreira e como conseguiu superá-los?
Os maiores desafios na minha carreira foram lidar com a ansiedade e a perturbação obsessiva-compulsiva, bem como encontrar o equilíbrio entre a liberdade criativa e a sensibilidade do público. Consegui superá-los através do apoio da minha família, da terapia e do uso do humor como uma forma de lidar com os meus medos. Aprender a aceitar as críticas e a adaptar-me às mudanças também foi crucial para superar esses desafios.
A sua família tem uma presença forte nos seus conteúdos. De que forma influencia o seu trabalho e de que forma contribui para o processo criativo?
A minha família influencia fortemente o meu trabalho e contribui imensamente para o meu processo criativo. Saber que temos alguém ao nosso lado que acredita em nós e nos apoia faz toda a diferença. E, se estou nesta área hoje, devo-o muito à Catarina, que entendeu que era uma oportunidade. Para além disso, as experiências e as interações com as miúdas e com a Catarina são, sem dúvida, uma fonte constante de inspiração e material para o humor. A dinâmica familiar oferece uma perspetiva autêntica e relacionável que ressoa com o público. Além disso, o apoio e a compreensão da minha família são fundamentais para o meu sucesso e bem-estar.
Como consegue equilibrar a vida familiar com a vida profissional?
Equilibrar a vida familiar com a vida profissional requer uma boa gestão do tempo e das prioridades. Tento estar presente para a minha família e dedicar tempo de qualidade a ela, enquanto cumpro os meus compromissos profissionais. A comunicação aberta e o apoio mútuo com a Catarina são essenciais para manter esse equilíbrio.
O humor tem um papel importante também na forma como lida com os desafios familiares?
Sim, o humor desempenha um papel crucial na forma como lido com os desafios familiares. Ele permite descontrair tensões, abordar questões difíceis de forma mais leve e criar um ambiente mais positivo e acolhedor em casa. O humor ajuda a relativizar os problemas e a enfrentar as dificuldades com uma perspetiva mais otimista.
Como vê o futuro da comédia em Portugal?
Creio que é possível olhar para o futuro da comédia em Portugal com grande otimismo. Acredito que a comédia continuará a evoluir e a ganhar espaço, com novas vozes e formatos a emergir. A diversidade de estilos e a capacidade de adaptação às mudanças culturais e sociais são fatores que contribuirão para o crescimento da comédia no país. Vejo também uma maior aceitação e valorização do humor como uma forma de arte e uma ferramenta poderosa para a reflexão e a mudança social.
Como e onde se imagina daqui a cinco anos? E daqui a dez?
Daqui a cinco anos, imagino-me a continuar a fazer o que amo, explorando novos projetos e formas de humor, talvez com mais espetáculos e iniciativas que combinem comédia com causas sociais. Daqui a dez anos, espero ter solidificado a minha carreira e ter contribuído de maneira significativa para a comédia em Portugal. Além disso, quero continuar a crescer pessoalmente, mantendo um equilíbrio saudável entre a vida profissional e familiar, e continuar a usar o humor para trazer leveza e reflexão à vida das pessoas.