Um dia depois de ter sido agredido por um grupo de extrema-direita, quando entrava para um espetáculo com entrada livre de homenagem a Luís Vaz de Camões, no Cinearte, em Lisboa, Adérito Lopes quebrou o silêncio.
"Na sequência dos recentes acontecimentos ocorridos junto ao Teatro A Barraca, em resultado dos quais fui agredido violentamente no rosto, venho, por este meio, prestar uma breve declaração pública, em respeito por todos os que, com genuína preocupação, me fizeram chegar palavras de solidariedade", começou por dizer o ator, em comunicado, explicando o sucedido: "No passado dia 10, data em que me preparava para exercer o meu ofício – neste caso, representando a figura maior da nossa literatura, Luís Vaz de Camões –, na minha chegada ao teatro, fui absolutamente surpreendido por um cruel e brutal ato de violência, totalmente gratuito, sem que da minha parte tivesse havido qualquer ação em relação à pessoa do agressor ou em relação a qualquer outra pessoa ali presente."
Seguidamente, Adérito Lopes anunciou uma decisão: "Entendo que este vil ataque de que fui vítima tem de ser exemplarmente investigado e punido pela justiça, em homenagem a princípios constitucionalmente consagrados, como o do direito à integridade pessoal, aplicáveis a todos os cidadãos do nosso país. Assim, para não prejudicar a investigação que a situação justifica, não pretendo, por ora, pronunciar-me publicamente sobre este ataque, o que somente fará em sede própria, tendo confiado a minha representação jurídica ao Dr. Ricardo Sá Fernandes e à Dra. Sandra Aguiar, em cujo trabalho tenho plena confiança."
"A minha posição não é motivada por medo, mas pelo facto de entender que é à justiça que cabe resolver este assunto e também por não querer transformar este incidente num trampolim publicitário ou numa oportunidade mediática a favor do agressor e/ou de grupo de que alegadamente fará parte", frisou o ator.
"Agradeço, comovido, todas as manifestações de afeto, indignação e respeito que tenho recebido de colegas, alunos, encarregados de educação, professores, artistas, políticos, amigos, cidadãos anónimos, órgãos de Estado e personalidades públicas. Muitas dessas comunicações chegaram-me também através da minha agente, Teresa Miguel Amaral, a quem agradeço, com igual apreço, a generosidade e o cuidado na gestão deste momento", salientou Adérito Lopes, estendendo o agradecimento "ao coletivo d'A Barraca e, em particular, a Maria do Céu Guerra, pela presença e postura destemida".
"Para encerrar", o ator evocou "versos do poeta que, por ironia ou destino", se "preparava para encarnar nesse dia":
"E se eu mais der a cervis, a mundanos acidentes,
Duros tiranos e urgentes,
Cale-se esta confusão; cante-se a visão de paz.
- Luís Vaz de Camões."
O comunicado terminou com Adérito Lopes a sublinhar que se encontra "com serenidade, gratidão e confiança no que é justo".