Afinal, o que mudou no restaurante O Mirante da Rocha, após o “Pesadelo na Cozinha”?

“Sabes o que me lembra isto? Sarajevo!”. Esta foi uma das frases marcantes do mais recente episódio de “Pesadelo na Cozinha”, no qual o chef Ljubomir Stanisic tentou dar um novo rumo ao restaurante O Mirante da Rocha. A SELFIE foi visitar o espaço após a passagem do programa, e se, agora, O Mirante da Rocha já não se compara ao caos de uma cidade em guerra, também está longe de um qualquer destino paradisíaco…

  • 29 dez 2019, 23:00
Igor Pires

Não julgue O Mirante da Rocha pela entrada. Uma vitrine típica de um anónimo snack-bar – repleta de refrigerantes, sem petiscos e com pouquíssimos produtos frescos – e um ruído persistente que – julgamos nós – tem origem nas obras do andar de cima são aqueles ingredientes que nos fazem ter vontade de dar meia volta e procurar outro restaurante para uma refeição calma. Mas, movidos pela curiosidade de saber o que mudou n´ O Mirante da Rocha após o “furacão” Ljubomir Stanisic, avançámos rumo ao interior do restaurante.

O barulho ficou para trás. E o apetite regressou, assim que fomos acolhidos numa sala em que predomina a combinação agradável do azul com o branco, com nota de destaque para os cortinados, que ajudam O Mirante da Rocha a ter um ambiente familiar. Só isso nos soube logo bem, num início de tarde de temporal. Aliás, mal nos sentámos à mesa, fomos assombrados por aquilo que parecia ser uns relâmpagos sucessivos. Mas era, afinal, um descuido da casa – uma lâmpada que não parava de piscar, mesmo sobre as nossas cabeças.

O Mirante da Rocha parece reconhecer que um dos principais passos para conquistar os clientes é a simpatia no atendimento, essencial para nos sentirmos imediatamente em casa. E, nisso, a jovem Carolina merece estrela Michelin. Sempre com um sorriso no rosto e bastante prestável, a empregada de mesa apresenta os pratos do dia e tira quaisquer dúvidas, de forma clara e sem hesitações.

Sim, existem diferenças evidentes em relação àquilo que acabámos de ver no programa: Carolina está o tempo todo na sala, sem nunca marcar presença na cozinha. Mas, isso, como veremos, em nada afeta a fluidez na chegada dos pratos que, no dia em que fomos, não estavam a ser preparados por Pina, mas por outra cozinheira.

Se acabou de ver o “Pesadelo na Cozinha” e já quer aproveitar os próximos dias para ir a Carnaxide e saborear uma açorda de ovas ou um leite-creme no restaurante… é melhor mudar de ideias.

Essas opções não existem na ementa, que, aliás, sofreu bastantes alterações em relação às propostas de Ljubomir Stanisic. A sopa do dia deveria ser ervilhas com chouriço, mas esperávamo-nos uma sopa de legumes. No lugar da açorda de ovas, temos umas pataniscas de bacalhau com arroz de feijão. Em vez de entrecosto no forno com batata à Padeiro, há febras de cebolada. E o leite-creme - com aquele toque de sofisticação na apresentação - é substituído por uma serradura ou mousse de frutos vermelhos. Simplificar para agradar?

Caso não queira os pratos do dia, não há carta, mas mantêm-se as alternativas do chef, exceto o pica-pau. Ainda bem que tivemos a simpática Carolina para nos esclarecer sobre o que podíamos almoçar… É que, no exterior do restaurante, os pratos do dia são completamente diferentes da ementa que surge afixada num painel, logo à entrada (ver galeria).  

À parte essa desorganização, os principais pesadelos de O Mirante da Rocha ficaram para trás. Por exemplo, numa sala metade cheia, o tempo de espera reduziu drasticamente: em 15 minutos, a sopa já estava servida – e bem saborosa. Mais um quarto de hora depois, chegavam as pataniscas e o bitoque. As sobremesas – a serradura e a mousse – também seguiram sem demoras… e com muito sabor!

Infelizmente, o mesmo não se pode dizer dos pratos principais. As pataniscas estavam boas, mas o arroz… frio. Não fosse a nossa boa-vontade e tinha voltado para trás. Além disso, lamenta-se a ausência de uma salada para acompanhar quer as pataniscas, quer o bitoque.

A propósito de bitoque, veja as fotos na galeria, se se atrever. A apresentação do prato é péssima. Onde está o ovo a acompanhar todo o pedaço de carne? Onde está a gema reluzente? Pela primeira vez na nossa vida, começámos o bitoque pelo arroz, em vez do típico gesto de molhar o pão no ovo. E não foi a melhor das opções: o arroz estava insosso. Valeu-nos um restinho de molho do bitoque para lhe dar algum sabor. As batatas fritas estavam boas. Mas, reforçamos: a falta que fazia uma rica salada…

Não foi a única ausência sentida na refeição. Nas entradas, os fãs de queijo podem queixar-se da falta deste ingrediente, que, a uma quinta-feira, já não estava mais disponível no restaurante, após as compras do começo da semana – palavras de Carolina. Bom, lá enganámos a fome com um pão e azeitonas. E é delicioso sermos enganados desta maneira. As azeitonas tinham um bom tempero e o pão estava fresco.

Entre um e outro prato, alguns pormenores cativaram a nossa atenção. Por exemplo, as toalhas de mesa podiam estar um pouco melhor engomadas. Além disso, o proprietário d´ O Mirante da Rocha, Fernando, costuma dividir-se entre o balcão de entrada e o restaurante. Amável, tem o cuidado de perguntar aos clientes se tudo está do nosso agrado. A simpatia é tão desarmante que esquecemos o ovo murcho do bitoque e afirmamos com a maior convicção de que está tudo cinco estrelas e que os pesadelos já lá vão!

Veja, agora, as imagens na galeria que preparámos para si e aproveite para (re)ver o episódio do "Pesadelo na Cozinha".

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