Psicóloga Tânia Correia sobre provas de aferição: "Na nossa cultura, há uma certa necessidade de se promover a ignorância"

Num artigo de opinião, a psicóloga Tânia Correia tece uma crítica, a propósito das provas de aferição.

Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência / OPP: 24317
  • 29 abr 2023, 13:12
Tânia Correia
Tânia Correia

Nos últimos dias, tenho recebido muitas mensagens com prints de e-mails das escolas a pressionarem os pais para que os filhos façam as provas de aferição.

Nesses e-mails, é frisado que as provas são obrigatórias, o que é verdade, contudo, não se explica o direito que temos de não levarmos as crianças à escola nesse dia, sendo que, desta forma, deixam de o ser. Por outras palavras, só são obrigatórias se escolhermos/ tivermos de levar a criança à escola.

Há na, nossa cultura, uma certa necessidade de promover a ignorância. Quanto menos as pessoas conhecerem os respetivos direitos, menos os usam e mais facilmente se conseguem controlar e manipular. Sinto que, neste ponto das provas de aferição, é isso que se está a promover.

Posto isto, fica aqui o esclarecimento: a criança pode faltar, sem que isso lhe traga consequências. A falta justifica-se como qualquer outra ou pode ficar por justificar, se a criança ainda tiver faltas para dar.

Continua a ser difícil, para mim, entender o que se quer provar com estas provas (passe a redundância). As competências das crianças não serão certamente, pois essas não se circunscrevem à forma como escrevem num computador.

Enquanto não percebermos que a aprendizagem é muito mais do que o resultado numa prova escrita, continuaremos a ter pessoas que aprendem a decorar, em vez de seres humanos que aprendem com gosto, curiosidade de saber e com vontade, acima de tudo, de ser.

Se queremos mudar este paradigma, precisamos de começar a dizer não.
 

Tânia Correia
Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência / OPP: 24317

Relacionados