Entrevistas

Após vencer prémio internacional, jornalista Catarina Canelas desvenda próximos projetos

Depois de conquistar o Prémio Especial Ibero-Americano de Jornalismo Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, vinculado aos galardões do rei de Espanha, Catarina Canelas contou à SELFIE o que representa esta distinção e desvendou quais os projetos que se seguem na carreira da jornalista da TVI.

O que representa este prémio para si?
É o melhor tributo ao meu trabalho e vem confirmar a qualidade das minhas reportagens. É o prémio mais importante que recebi e, talvez, aquele que solidifica as minhas certezas de que sempre apostei nos assuntos certos, garantindo a segurança das audiências em horário nobre. E, depois, ser distinguida pela mesma instituição que já deu prémios ao Nobel da Literatura Mario Vargas Llosa ou ao escritor Arturo Pérez Reverte só me deixa, ainda, mais forte e orgulhosa das minhas convicções. O prémio é muito do João Franco, o repórter de imagem que me acompanhou sempre, neste e em outros trabalhos. Mais tarde, juntaram-se a Teresa Almeida e o Nelson Costa, na edição, a Teresa Gião, da Mediateca, o grafismo, as promoções... Uma equipa maravilhosa!

E para o jornalismo da TVI?
Significou elevar imenso a fasquia de qualidade, rigor, exigência, notoriedade e respeito. É raro a TVI ganhar prémios de jornalismo desta escala e dimensão. Este é um prémio global, eleito entre 150 reportagens de mais de 20 países - todos os que falam espanhol e português, incluindo os EUA. Só isto diz tudo!

É, também, importante para o jornalismo português?
É uma série de reportagens que ajudou o jornalismo português a distinguir-se por, unanimidade, entre países tão fabulosos a contar histórias, como a Colômbia, o Brasil, o México ou Espanha. Em Portugal, há muita gente a fazer jornalismo de excelência.

Quem foi a primeira pessoa a quem contou sobre o prémio?
Ao meu marido! Ficou ainda mais orgulhoso de mim e do meu caminho no jornalismo. Nos momentos difíceis de construção deste trabalho, deu-me sempre apoio e ânimo. Ele sempre me disse que o trabalho, a dedicação, a entrega e a honestidade vencem as adversidades. Depois, liguei ao João Franco, que, muito mais do que um brilhante repórter de imagem, é um enorme amigo, neste e noutros trabalhos que fizemos.

Quem é a pessoa que está mais orgulhosa desta conquista?
Eu! Por todo o percurso até hoje. Ao ser informada do prémio, recordei-me do que tinha feito até aqui. Lembrei-me, por exemplo, da humidade perturbadora de Macau, do cheiro a fumo de incêndios que as minhas roupas tinham nos verões quando era correspondente em Coimbra, do pés molhados das cheias do Mondego, das imagens e dos testemunhos perturbadores dos acidentes graves no IP 3, no IP 5 ou no IC 8. Lembrei-me de quanto custou, e do caminho que fiz, para estar orgulhosa de mim, agora. Hoje, sou uma pessoa mais inteira.

Como recebeu as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa?
Custou-me a acreditar, sobretudo, vindo de alguém tão exigente e rigoroso como ele. Sou-lhe muito grata e já lhe fiz chegar que as palavras são um enorme fortalecimento das minhas convicções e causas. Para mim, foi uma condecoração, uma medalha, antes do 10 de Junho... [risos].

Como foi gravar esta série de reportagens em locais tão diferentes?
Foi todo um processo doloroso, em termos mentais e físicos! Foi gravar com temperaturas abaixo de zero nos mares da Noruega e da Bélgica, no gélido frio da Áustria, no calor extremo de Cabo Verde, foi dormir no chão, ir para lugares sem comunicação, água ou luz, com comida racionada. E, depois, convencer as pessoas certas a falarem. É difícil chegar à fala e entrevistar os melhores em termos globais. Eu e o João Franco conseguimos!

Quais foram os principais desafios?
Convencer quem decide de que este era um trabalho importante para colocar em horário nobre. Desde a primeira hora, tive o apoio do Sérgio Figueiredo para avançar com o trabalho, e, mais tarde, do Pedro Pinto, mas foram tantas as pessoas que duvidavam da excelência do trabalho... Acreditei sempre e lutei para meter as reportagens em horário nobre. O resultado foi avassalador para um tema "fora das notícias". Mais de 10 milhões no "Jornal das 8" e no "Jornal da Uma"... em agosto!

Sempre sonhou ser jornalista?
Desde sempre que gosto de ouvir e de contar os outros. E tive noção, muito cedo, da dimensão e do privilégio que é ter e dar voz. Mal sabia ler e escrever e já fazia um programa infantil na rádio local. Nunca mais parei! Daí até à escolha do jornalismo, na faculdade, e ao mercado de trabalho, tudo aconteceu com muita naturalidade! Ter trabalhado e vivido em Macau, assim como ter viajado muito, ajuda-me a ler o mundo e os gestos simples, nos quais há uma história. O que a minha experiência profissional de vários anos me diz é que qualquer um pode ser jornalista. Já ser um bom repórter não é para todos.

Qual a reportagem que mais ambiciona fazer?
A próxima! Sempre fui atrás da reportagem "impossível" e de temas que desafiam as lógicas do horário nobre de televisão. Não sou especialista em Ambiente, mas provei que é possível ganhar um dos melhores prémios globais sobre o assunto. Não sou especialista em religião ou poder local e ganhei os prémios mais relevantes nessas áreas. Por prazer pessoal, a reportagem que mais ambicionava fazer era ir com o David Attenborough a uma praia, ver as pequenas tartarugas a começarem a primeira odisseia no mar. Ele é o mestre e uma referência naquilo que faz, pelo bem do planeta e dos nossos mais próximos.

O que se segue, agora, na sua carreira?
Muitas ideias fantásticas e para horário nobre, que ajudem à liderança. Como dizia o escritor : "De nenhum fruto queiras só metade."

Relacionados

Patrocinados