Dino D'Santiago concedeu uma entrevista ao programa "Alta Definição", na qual recordou a infância difícil, marcada por privações.
"Tínhamos os iogurtes contados. O fiambre, se houvesse, também era contado. Era tudo tão contado que me lembro dos roncares da barriga e, às vezes, sentia vergonha se estivesse na escola… Aí era o único momento que causa mais desconforto, porque havia pessoas mais privilegiadas, outras menos, mas sentias vergonha do som em si", começou por afirmar o músico, de 40 anos.
Dino D'Santiago apontou, também, o dedo pelo destaque à fome que existia em África, esquecendo-se que, dentro do país, existem cenários semelhantes: "Não é justo só vermos imagens, na altura a UNICEF tinha grandes campanhas sobre África e a fome em África, a pobreza e a miséria… E eu lembro-me de olhar para aquilo e pensar que isso estava cá no bairro dos Pescadores. Por que é que se investe tanto a falar de lá de fora, e aqui só se fala do tráfico de droga e não se fala da miséria que está à nossa frente."
"A água do mar entrava dentro das nossas casas e nós até disso fazíamos brincadeira", acrescentou, recordando que "depois vinha a porcaria toda", como os "ratos, as baratas, as osgas".
"A vida era aquilo. Água potável, nós não tínhamos. O meu primeiro banho de banheira foi aos 15 anos. Tínhamos de ir buscar a água potável à bica. Eram três bicas para servir milhares de pessoas [...]. Puxávamos mangueiras e, quando ela já estava ali à mais tempo, cortavam a tua mangueira e tinhas de fazer remendos. Depois, tínhamos de ficar de vigia na bica, mas, às vezes, à noite. Éramos crianças e claro que tínhamos medo. Andava ali nos becos e tinha bastante medo, mas tinha de ter a postura de um corajoso", afirmou
Para Dino D'Santigago, o bairro dos Pescadores podia, também, ser apelidado de "o bairro dos sonhadores frustrados": "Tínhamos toxicodependentes no bairro dos Pescadores, muita gente de famílias que vinham de Lisboa e iam morrer para o bairro, porque os familiares aqui tinham vergonha. Por isso, [vivíamos] entre os traficantes, as pessoas que compravam os produtos, os trabalhadores que edificavam Vila Moura... Ali eram as pessoas que não conseguiram vingar os seus sonhos, estavam todas no mesmo patamar, no mesmo lugar. Como é que podíamos ambicionar mais?"
"E os nossos pais cultivava-nos com o 'sê feliz com o que tens'. A forma de eles nos protegerem era trancar-nos, literalmente, em casa, porque não tinham dinheiro para nos colocar num ATL - mas era o que nos protegia de vários amigos meus que, depois, se tornaram traficantes, ou toxicodependentes, foram presos por isto ou aquilo, outros morreram", assinalou.
Dino D'Santiago enumerou, ainda, outras situações, nas quais sentia vergonha: "Sentia mais vergonha, quando as roupas tinham as marcas do xixi ou das fezes dos ratos. O que me dava mais vergonha era estares na sala de aula, abrias a mochila e saia de lá de dentro uma barata."
Veja, agora, algumas das melhores imagens de Dino D'Santiago, na galeria de fotografias que preparámos para si.