Dez dias depois da tragédia, Joana Amaral Dias conta como tudo aconteceu: "O meu pai morreu no meio da rua"

Ainda a sofrer com a morte do pai, Joana Amaral Dias falou sobre como tudo aconteceu e como tem sido difícil fazer o luto.

Dez dias depois da morte de Carlos Amaral Dias, a psicóloga contou, em conversa com Cristina Ferreira, detalhes do fatídico dia.

Sobre a manhã em que o pai morreu, Joana Amaral Dias recordou, com angústia, o fatal lapso do INEM: "No dia 3 de dezembro sentiu-se mal, a auxiliar que estava com ele em casa chamou logo o INEM, às 09h09 da manhã. Sabes a que horas o meu pai chegou ao hospital? Já passava das 11h00 da manhã, num trajeto que se faz em 5/10 minutos."

Visivelmente emocionada, a psicanalista manifestou a revolta: "O meu pai morreu no meio da rua, com uma paragem cardiorespiratória. Podem imaginar o nosso sofrimento. Todas as pessoas têm direito a uma morte digna. Se ele tinha muitas patologias associadas, não se justifica nunca um homem de 73 anos ou uma rapariga de 20 não terem resposta da emergência médica. Isto aflige-me."

Joana Amaral Dias contou que a primeira ambulância a socorrer o pai foi um carro dos Bombeiros do Beato. "Não são médicos, são bombeiros. Não tinham capacidade de responder à situação clínica daquele momento", avaliou, acrescentando: "Para além disto, essa ambulância avariou porque temos equipamentos velhos. O meu pai ficou no meio da rua e, quando chamam uma segunda ambulância, demora 40 minutos a chegar. Não veio com médico nem sequer com equipamento de reanimação."

No final, Joana Amaral Dias garantiu: "Nós não vamos deixar as coisas ficar por aqui, a nossa família também se vai mexer em nome do meu pai e da sua morte. Mas também em nome de todas as pessoas que são alvo desta negligência."

Recorde-se que Carlos Amaral Dias morreu a 3 de novembro, em Lisboa. Carlos Augusto Amaral Dias tinha abandado há cerca de um mês, a seu pedido, a direção do Instituto Superior Miguel Torga (ISMT), à frente do qual esteve mais de duas décadas, sendo designadamente o principal responsável pela afirmação e crescimento do estabelecimento, no qual foi o impulsionador da criação da maior parte das suas licenciaturas.

Amaral Dias foi catedrático da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Coimbra (FPCEUC) – onde se doutorou, depois de se ter licenciado em psiquiatria também na Universidade de Coimbra – e foi docente do Instituto Superior de Psicologia Aplicada, em Lisboa, cidade onde manteve durante vários anos consultório médico. Foi presidente da Sociedade Portuguesa de Psicanálise e da Sociedade Portuguesa de Psicodrama Psicanalítico de Grupo, vice-presidente da Academia Internacional de Psicologia e coordenador do Nusiaf (Núcleo de Seguimento Infantil e Ação Familiar) da FPCEUC e dirigiu a Revista Portuguesa de Psicanálise.

Relacionados