Jornalista da TVI investiga solos contaminados no Parque das Nações

A próxima grande reportagem da TVI terá lugar no Jornal das 8, no próximo domingo, dia 21. Paula Gonçalves Martins traz uma investigação com revelações importantes sobre o tema dos solos contaminados. Para Paula Gonçalves Martins, "o maior desafio foi encontrar pessoas que falassem".

Em entrevista exclusiva à Selfie, Paula Gonçalves Martins falou sobre o que podemos esperar da investigação jornalística que fez durante meses. "Contaminações" é o resultado dessa investigação e promete desvendar um grande problema de saúde pública, escondido em terrenos de Lisboa. 

De que trata esta reportagem?

"É uma reportagem de investigação, sobretudo, sobre os casos de terrenos contaminados que foram encontrados, na cidade de Lisboa, no último ano. Têm vindo a surgir notícias de vários casos de obras, em terrenos que se verificaram contaminados. Alguns deles estão contaminados com substâncias que são perigosas para a saúde, que são nocivas. Há um caso, talvez o mais falado, que é o mais preocupante, diria eu. É o caso do Parque das Nações, que é uma zona muito grande, com uma densidade populacional elevada. Vive ali muita gente, têm ali muitos serviços e é uma zona que, teoricamente, tinha sido toda descontaminada, na altura em que aquilo foi preparado para a Expo98. Eu digo «teoricamente» porque, agora, descobriu-se que, afinal, há pelo menos partes de terreno que ainda estão contaminadas. Portanto, das duas uma: ou a descontaminação foi mal feita, ou houve ali alguma parte do terreno que não foi descontaminada. Apesar de, na altura, a Parque Expo ter gasto algum dinheiro com a descontaminação, foram 18 milhões de euros de dinheiro público, porque a Parque Expo, no fundo, era uma empresa pública.

A verdade é que, vinte anos depois, aquilo continua contaminado e, portanto, levanta um pouco a questão da contaminação em alguns lotes, daquele terreno. O que é que será que está no resto da zona de intervenção da Expo98? Será que a descontaminação também foi mal feita no resto? Fica essa dúvida no ar. Isto tudo surgiu, ou ressurgiu, agora, porque o hospital Cuf Descobertas está a fazer a obra de expansão. Está a construir um novo edifício, em frente àquele que já existe, e, nesse mesmo terreno, foram feitas escavações, para um parque de estacionamento subterrâneo. Este terreno estava de facto contaminado e uma boa parte era perigosa. Havia níveis de contaminação muito elevados, com uma substância chamada «hidrocarbonetos», derivada do petróleo e que é cancerígena. Aquilo libertou um cheiro muito forte, a combustível, a gás, e incomodou muitas pessoas à volta. Houve, portanto, muitas queixas, em relação àquela obra. Aquilo foi uma espécie de abertura da caixa de pandora e desencadeou todas as questões em torno da descontaminação daquela zona."

Sendo um problema de saúde pública, acredita que vai despertar o interesse dos telespetadores, em geral?

"Eu espero que desperte o interesse do telespetador. Foi por isso que fizemos esta reportagem. É uma questão importante que interessa às pessoas. Não só às pessoas que vivem ali e que, na verdade, não sabem bem o que é que pode estar por debaixo dos terrenos, nem a que substâncias estão expostas. Mas eu acho que é uma coisa que interessa a toda a gente, porque acontece ali e acontece um pouco por toda a Lisboa e um pouco por todo o país. Além disso, uma das questões que também se levanta nesta reportagem é a atuação das autoridades, que, neste caso, parece-me que agiram tarde e de forma um pouco lenta, para aquilo que era exigível, num caso que trata uma substância cancerígena. A verdade é que ninguém sabe onde é que há terrenos contaminados em Portugal, ou com o que é que estão contaminados. Ficamos um pouco a achar que as autoridades, talvez, não estejam a fazer, por completo, o papel que lhes cabia."

Nesta reportagem, qual é que foi o maior desafio que encontrou?

"Para ser sincera, o maior desafio foi encontrar pessoas que quisessem, ou aceitassem, falar sobre este tema. É um tema que, em off, as pessoas dão informações e reconhecem coisas que acontecem, e que não são muito legais, ou não são feitas de uma maneira muito correta. Mas, em on, para uma reportagem em que se dá a cara, ninguém quer, porque toda a gente tem medo. Sobretudo, quem trabalha neste setor. As pessoas têm medo de, depois, não terem clientes. Se denunciam o caso, dão a cara e, a partir daí, aquela empresa fica conotada com a imagem de que denunciou, logo, ninguém contrata. Nós temos aquela expressão: «a mulher de César não basta ser séria, é preciso parecer séria»... neste caso, é o contrário. Eles não podem parecer demasiado sérios, porque depois ninguém os contrata. Acho que é um pouco por aí. Acho que existe muito medo sobre as repercussões do que se conta."