Entrevistas

Ângelo Rodrigues quebra o silêncio: "Estive dois meses sem olhar para a minha perna"

Na primeira entrevista após o grande susto de saúde que apanhou, Ângelo Rodrigues surgiu sem muletas e a caminhar normalmente. Pelo meio, ainda recebeu palavras comoventes da ex-namorada, a apresentadora Iva Domingues.

  • 8 dez 2019, 03:31
Igor Pires

“Tive dois meses no hospital em que não tive bem noção das repercussões que o meu caso teve cá fora, agora começo a ter essa real noção e tem acontecido uma coisa interessante que é a necessidade das pessoas mais próximas de mim que, quando me veem – que já não me veem há tanto tempo depois deste episódio traumatizante –, querem explicar tudo o que eu lhes fiz sentir. Ou seja, quando receberam a notícia, quando foram acompanhando todo o meu processo, e eu entendo isso como enternecedor. É uma forma de me fazer ver o que é que eu lhes fiz sentir. Tem havido uma onda de amor generalizado a que eu não estava habituado e ainda não sei bem lidar com isso”, começou por recordar Ângelo Rodrigues.

Embora saiba que as pessoas gostam dele, o ator, de 32 anos, sente que se verbaliza pouco que se ama as pessoas de quem se gosta: “Acho que pela primeira vez na vida estou a ter esse contacto grande, um confronto com esse amor”.

Entretanto, Ângelo Rodrigues explicou o que começou a sentir na altura em que foi ao hospital: “Comecei a sentir que o meu corpo me estava a falhar, ou seja, sempre fui aquele tipo de pessoa que quase nunca fica doente, e mesmo quando fico doente – uma vez por ano ou de dois em dois anos – pergunto a um amigo o que é que tenho de tomar ou vou à farmácia. Tenho um bocado de pânico [de ir ao médico], não gosto. Uma vez que somos figuras públicas, existem histórias que podem ser espalhadas, pode-se dizer outras coisas… Prezo muito a minha intimidade e é assim que gosto de viver a minha vida. Ao mesmo tempo, nesse momento estava com uma carga de trabalho enorme e um stress profissional bastante grande. Estava com um princípio de febre... Tinha quebras de força, estava um bocado em baixo”.

Na altura, o ex-moranguito até chegou a tomar antibióticos. Uma semana depois, decidiu ir até ao hospital pela primeira vez e nesses dias, apesar de não se sentir bem, acreditou que eram os antibióticos que não estavam a fazer efeito. “Passei o período de uma semana, que foi o período mais crítico, quando o meu quadro clínico estava assombroso, e foi nessa altura que eu já deveria ter ido ao hospital e não fui”, admitiu.

Sendo assim, apenas foi ao Hospital Garcia de Orta, onde esteve internado depois ao longo de dois meses, “quando foi obrigado”: “Estava a fazer esse programa ['Virar o Jogo', no canal 11] e a produção disse-me se eu era capaz de fazer o programa, já não me sentia capaz, mas eu não consigo falhar profissionalmente com ninguém, ainda por cima trabalhando em televisão que são muitas pessoas, os produtos não são feitos sozinhos, há sempre uma equipa por trás. Sempre achei que conseguia fazer o programa até ao fim e foi isso que eu assumi. Eles aceitaram com a condição de no final do programa eu ir ao hospital. Foi isso o que aconteceu, fui de urgência para o hospital e viram que o meu quadro clínico estava péssimo e mandaram-me para casa com a minha autorização”.

Ângelo Rodrigues quis ir para casa, porque no dia a seguir iria ter outro programa e não queria faltar com a sua palavra, mesmo após o médico lhe ter dito que o quadro clínico era complicado. Só que, como o próprio afirma, o corpo acabou por "colapsar". "Por mais que possas transpirar saúde… sou a prova viva que a vida pode ser um sopro e que de repente já não estamos cá"

Quando ficou internado em estado crítico, o ator admitiu que "não tinha a real noção do que estava para vir”: “Nunca na minha vida imaginava que ia ficar em coma. Tanto que quando acordei do coma eu via toda a gente triste à minha volta, mesmo o corpo médico, e eu tentava perceber o que é que tinha acontecido e porque é que eles estavam com aquela cara”.

Ângelo Rodrigues ficou em coma induzido durante 4 dias. “Explicaram-me que eu tinha estado em coma e eu pensava que estavam a brincar comigo. Juro. E depois explicaram-me que eu tive uma septicemia, uma falência dos meus órgãos vitais, o que fez com que eu ficasse numa cama durante dois meses. Foi muito difícil eu encaixar isso como verdade, uma coisa que aconteceu”, recordou.

Quando acordou do coma, não tinha noção do que lhe estava a acontecer: “O que acontece nestas situações de quase morte, nestas situações traumáticas, é que o cérebro entra em mecanismo de defesa e de sobrevivência. Não me lembro de absolutamente nada desses quatro dias em que estive em coma e dos três dias anteriores. Ou seja, há uma semana da minha vida que foi apagada da minha memória. Tenho uma amnésia temporária".

Fora do hospital, a imprensa noticiava que Ângelo Rodrigues poderia ter de amputar a perna esquerda e que estava com várias mazelas. “Felizmente isso é uma coisa que tenho muito a agradecer ao corpo médico e família, porque foi uma coisa em consonância, procuraram proteger-me bastante no início e agora percebo porquê, por causa desta cobertura toda mediática”, afirmou.

Soube de tudo sobre o seu estado de saúde, através dos amigos mais próximos e da mãe, irmão e irmã. “Eu não queria acreditar porque, de facto, estive bem próximo de não estar aqui, nesta entrevista”, sublinhou.

“Sabia que alguma coisa tinha acontecido com a minha perna, não quis ver. Estive dois meses sem olhar para a minha perna. Só no último dia é que tirei as ligaduras e vi as marcas que este acidente trouxe ao meu corpo”, revelou.

“Isto é tudo um processo de cura e neste processo é bom estar rodeado de pessoas que transmitam a energia certa. O que é certo é que a positividade tem um enorme peso. Há uma poderosa ligação entre a mente humana e a saúde física. Todo este cuidado que houve em não me dizerem o que é que aconteceu momentaneamente, durante o tempo em que estive lá, ajudou-me bastante. Fiquei focado naquilo que realmente interessava que era só a minha sobrevivência, a minha recuperação”, acrescentou.

Além disso, o ator ficou afastado do telemóvel durante algum tempo, um conselho dos médicos para não ficar a par das notícias que iam sendo publicadas: “Disseram que para o meu bem estar não deveria ter telefone. No início, estou a falar dos primeiros dias em que acordei do coma, foi muito difícil porque naturalmente ainda estás com a cabeça cá fora e ficaste de responder a algumas mensagens…”

“Essa foi a melhor opção que tive durante o tempo em que estive internado que foi a opção consciente de não querer ter telefone e de não querer ter Internet. Acredito que isso fez toda a diferença neste meu processo de recuperação”, admitiu. 

Apesar de tudo o que teve de enfrentar, nunca deixou de ser otimista: “Não houve um segundo em que achei que não ia conseguir ou que não ia recuperar a 100%. E essa força indestrutível que eu encontrei algures dentro de mim foi o que me alimentou. Era uma característica que eu não conhecia ainda”.

Ao longo dos dois meses em que esteve internado, Ângelo Rodrigues foi submetido a sete cirurgias, duas para a reconstrução da perna esquerda. O processo de recuperação foi rápido, porque os médicos tinham previsto que ia passar a época do Natal e a Passagem de Ano no hospital. Mas, na verdade, o ator teve alta em outubro, após a segunda cirurgia de reconstrução da perna esquerda, e começou, posteriormente, as sessões de fisioterapia.

“Foi um processo muito rápido e a partir do momento em que saí, parece que estou a recomeçar a vida, a ter esta minha segunda oportunidade. É um caminho bastante fácil de distinguir dentro da minha cabeça, ou seja, vou ler tudo o que se disse sobre mim, vou-me culpabilizar, vou chorar sobre o leite derramado e vou ser negativo, ou vou focar-me no que realmente interessa que é a minha vida e a minha recuperação e depois são as pessoas que de facto estão lá? E foi essa opção muito simples”, sublinhou.

Entretanto, no decorrer da entrevista, foi surpreendido com um vídeo da ex-namorada, Iva Domingues, que o acompanhou nesta fase.

“Estou a gravar este vídeo na ‘Cidade do Futebol’, no canal 11, e nós temos um lema desde o primeiro dia deste canal que é acreditar no impossível. E, de repente, esse lema faz todo o sentido nesta minha mensagem. Só pelo facto de estar a fazer esta mensagem já me sinto agradecida e muito feliz. Quer dizer que estás cá, que estás bem, e que estás mais forte do que nunca, que estás com uma energia e um foco incríveis e que tal como disse alguém, um dia a coragem é a escada por onde sobem as outras virtudes. E eu, e aqueles que te amam cá estaremos no primeiro degrau ou no último, sempre para te apoiar. Bem-vindo, é uma nova vida, gosto muito de ti, vou gostar sempre muito de ti e estou muito feliz que estejas de volta”, afirmou Iva.

"Só tenho a agradecer também à Iva porque foi impressionante o carinho que ela teve e o esforço de ela me ir visitar tantas vezes, de me levar comida e almoçar comigo. Foi muito revelador. Nós tivemos uma história bonita,  mas, pelas circunstâncias da vida, pelos caminhos de cada um, nos afastámos, mas isso não quer dizer que as pessoas não possam manter a amizade e o amor. Há pessoas que foram muito importantes na nossa vida. Acho que este é um bom caminho, aceitar as pessoas na nossa vida”, respondeu Ângelo Rodrigues. 

Não ficou de fora da entrevista a preocupação pelo corpo. Uma preocupação que, realça, acontecia por falta de autoestima: “Houve uma época na minha vida em que sofri bullying e foi numa fase em que os alicerces da minha personalidade estavam a ser criados e isso para todos os efeitos tem mossas para o resto da vida. […] O desporto acabou por me devolver ou trazer a auto estima que eu não tinha”.

No entanto, hoje em dia, essa preocupação está colocada em segundo plano: o ator aceita que o seu corpo já nunca vai ser o que era. “Percebo o que realmente interessa”, destacou.

Relacionados

Patrocinados